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Brasil: Cientistas veem risco de nova onda com chegada de variante Delta

A rapidez com que o número de registros de covid-19 provocados pela variante Delta se multiplicou no Rio e a identificação de casos em cada vez mais Estados brasileiros chamou a atenção de cientistas, que temem uma nova onda da epidemia provocada pela cepa indiana. No Brasil, já são 122 pacientes com diagnóstico da nova cepa, mas especialistas acreditam que o número pode ser maior, diante das dificuldades de vigilância genômica.

Variante Delta do novo coronavírus já circula pelo Rio de Janeiro © Wilton Junior/Estadão Variante Delta do novo coronavírus já circula pelo Rio de Janeiro

Identificada originalmente na Índia, a Delta é mais transmissível que as demais variantes do novo coronavírus. Tornou-se predominante em praticamente todos os países do mundo em que entrou. É o caso dos Estados Unidos e de parte da Europa. No Brasil, acreditava-se que ela poderia ser bloqueada pelo fato de a cepa predominante no País ser a Gama (identificada originalmente em Manaus). De acordo com a Organização Mundial de Saúdea Gama é uma “variante de preocupação”, tão potente quanto a indiana. Mas o salto no Rio, que concentra 84 dos casos confirmados no País, acendeu o alerta.

“Não podemos relaxar; precisamos rastrear os casos e os contatos, isolar as pessoas, reforçar a vigilância epidemiológica e genômica, manter as medidas de isolamento e uso de máscara, e ampliar a vacinação”, enumera a presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, Gulnar Azevedo e Silva, professora do Instituto de Medicina Social da UERJ. “Se nada disso for feito, corremos o risco, sim, de termos uma quarta onda.”

Apenas uma dose não é suficiente para ‘barrar’ a Delta

Estudos mostram que a Delta é mais transmissível que as demais cepas, mas não necessariamente mais agressiva. Cientistas ressaltam que a variante se espalhou em países onde boa parte da população já está vacinada. Isso poderia explicar o baixo número de internações e mortes. Já se sabe também que apenas a primeira dose de um imunizante pode não ser suficiente para barrar a infecção. É complexo prever como a Delta se comportaria no Brasil, que tem menos de 20% da população imunizada com as duas doses.

“É difícil avaliar porque não temos nenhum outro país com a mesma situação epidemiológica do Brasil para comparar”, afirmou o virologista Fernando Spilki, da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul. “Os países europeus tiveram medidas de controle muito mais rígidas e estavam com a vacinação mais avançada.”

Segundo o especialista, o ideal é tentar evitar, pelo maior tempo possível, a transmissão comunitária da Delta no Brasil. É muito provável, porém, que ela já esteja circulando no Rio e em São Paulo.

“Temos de fazer a identificação dos casos, rastrear os contatos, mesmo os assintomáticos, quarentenando as pessoas”, disse Spilki. “Ainda dá pra fazer isso. Quando estivermos com centenas ou milhares de casos, não será mais possível.”

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