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Copa do Mundo e festas de fim de ano vão manter casos de Covid em alta até janeiro, dizem especialistas

As aglomerações para compras de fim de ano, assistir aos jogos da Copa do Mundo e as festas de Natal e Ano Novo vão impulsionar a alta de casos de Covid-19 -já notada há algumas semanas no país- até janeiro.

“Na verdade, já estão impulsionando. O que a gente enxerga é muito menor do que acontece de verdade. Esses fenômenos causam aglomeração, muita circulação de pessoas num momento de aumento de casos e variantes altamente infectantes, e de quebra da cobertura vacinal, sobretudo as de reforço. Isso contribui muito para a disseminação do vírus”, afirma Evaldo Stanislau de Araújo, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Para Araújo, ainda é impossível predizer quando a transmissão do coronavírus começará a desacelerar. Segundo o médico, uma característica do momento atual da Covid-19 é que as ondas estão cada vez mais próximas umas das outras e trazem um número maior de reinfecções.

“As pessoas perderam o medo, normalizaram a Covid-19 e a tratam como se fosse uma gripe, o que é um erro. Mesmo as formas leves da doença podem trazer consequências futuras, como danos neurológicos, cardiológicos e respiratórios, além da Covid prolongada. E há possibilidade de a reinfecção levar a formas graves e complicações tardias”, diz o infectologista do HC.

As medidas de contenção, como uso da máscara -principalmente em ambiente fechado, sem renovação de ar e com aglomeração- e o esquema vacinal completo, inclusive com as doses de reforço, são essenciais para o controle da Covid-19 Para as festas e reuniões, vale o alerta: para maior segurança, é recomendada a testagem de todos os convidados no mesmo dia do evento. “Hoje, temos a facilidade de encontrar autoteste disponível nas farmácias”, lembra Araújo.

Para Wallace Casaca, coordenador da plataforma SP Covid-19 Info Tracker, criada por pesquisadores da USP e Unesp para acompanhar a evolução da pandemia, vamos conviver com aumentos pontuais de novos casos até janeiro. “Existe uma subnotificação em razão de falta de testagem e de políticas públicas de incentivo à testagem. E os autotestes não são notificados.

Esses fatores diminuem a precisão na hora de mensurar o impacto real da doença. Por outro lado, é possível aferir um aumento substancial de novos casos de Covid, além da elevação das internações e mortes, embora em patamares inferiores em relação às ondas da doença em 2020, 2021 e início de 2022″, afirma Casaca.

“Em países que tiveram surtos da doença pelas mesmas subvariantes, a Covid levou cerca de um mês para atingir o pico de casos, se manteve em platô por alguns dias e iniciou o processo de descida, que levou cerca de 20 dias. Cabe explicar que o ritmo de crescimento de casos não é o mesmo em todas as regiões do país, embora o consolidado do Brasil mantenha tendência de crescimento atualmente”, explica o coordenador da plataforma.

Na avaliação de Alexandre Naime Barbosa, professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, o pico dos casos de Covid deve ser atingido em duas semanas, ficará em platô até a primeira quinzena de janeiro e depois começa a desacelerar.

“Isso porque as festas de final de ano são momentos de muita transmissão. Já fui consultado por grandes empresas que perguntaram se deveriam ou não fazer festa de confraternização e eu disse que não. Ainda não é o momento de expor uma população que pode ser vulnerável à infecção pelo vírus”, diz Barbosa.

O cientista ressalta que a regra também vale para festas familiares. “As que expõem pessoas vulneráveis são desaconselháveis.” Segundo o médico, quem for a estes eventos deve evitar contato com idosos e imunossuprimidos.

Segundo Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe, da Fiocruz, a situação é de crescimento acentuado com impacto nas internações. “Aonde chegará e as consequências só saberemos com o tempo. Quando começar a diminuir, teremos que olhar para trás e ver qual foi a magnitude.”

Para Gomes, a alta de casos de Covid-19 deverá impactar o início do próximo ano. “Tem muita gente nos centros comerciais, nas feiras de rua, nos shoppings centers. O deslocamento nas viagens associado ao Natal e Ano Novo também vai provocar uma mistura grande, inclusive levando cenários de um determinado local a impactar o de outras cidades.”

Marcelo Gomes ressalta que os cenários são diferentes nas regiões do país. “No estado de São Paulo, por exemplo, já dá para enxergar uma desaceleração; no Rio de Janeiro também, mas de forma mais lenta. Em outros estados, ainda é a fase inicial e o número de casos poderá chegar no auge justamente na virada do ano”, alerta.

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