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Acidente de avião da Chapecoense completa sete anos e feridas seguem abertas

Na madrugada do dia 29 de novembro de 2016, tudo parecia normal em Chapecó (SC), a não ser pela chuva que caía de forma incomum na cidade. Entre o sono profundo e as gotas de água que invadiam o silêncio, os telefones de Gabriela Conrado, torcedora da Chapecoense, e Eduardo Florão, jornalista que hoje cobre o dia a dia  do clube, tocaram.

No caso de Florão, quem estava do outro lado da linha era seu pai, o também jornalista Edson Florão, na época repórter da Rádio Super Condá. “O avião da Chapecoense caiu. Estou bem, não viajei”, disse.

A aeronave levava os atletas para a disputa da final da Sul-Americana em Medellín, na Colômbia, além de transportar diretores do clube, funcionários e jornalistas que cobririam a incrível jornada da Chape, que bateu gigantes como Estudiantes-ARG e San Lorenzo-ARG, até chegar à decisão contra o Atlético Nacional-COL.

Florão se sentiu aliviado por saber que o pai não estava no avião, mas a dimensão da tragédia do voo LaMia 2933, que vitimou 71 pessoas, ainda estava para ser descoberta naquela manhã.

No caso de Gabriela Conrado, ela foi acordada pelo toque do celular, e a tela indicava o número de uma amiga. Ela estranhou, já que raramente se falavam por ligação, apenas por mensagem.  Ela já sentia que se tratava de algo grave.

“Atendi, e ela perguntou se eu tinha visto o que tinha acontecido com o avião da Chape. Ela disse que tinha tido um pouso de emergência. Liguei a TV e comecei a acompanhar. Não tinha ainda informações”, lembra.

A chuva que invadiu a madrugada continuou durante toda a manhã. Florão, que na época se dividia entre radialista e agente penitenciário, lembra que as primeiras horas do dia foram incomuns. 

“A cidade era silenciosa, era um negócio impressionante. Uma cidade que começa a funcionar muito cedo, e aquele dia estava tudo muito silêncio”, lembra Florão.

Gabriela Conrado e os amigos que fez durante os anos de arquibancada foram à Arena Condá em busca de mais informações. Conforme o dia avançava, mais notícias chegavam ao Brasil. Das 77 pessoas que embarcaram em Santa Cruz de La Sierra, apenas seis sobreviveram.

“O primeiro pensamento que a gente teve foi que a Chape tinha acabado. A impressão era que não tinha mais nada. Quando amanheceu, todo mundo foi para o estádio, a gente precisava uns dos outros. Não tem nada que se compare. Nós perdemos tanta coisa”, diz Gabriela.

Avião que levava delegação da Chape ficou completamente destruído

Da delegação da Chapecoense que estava no voo 2931 da LaMia, apenas três integrantes saíram com vida: Alan Ruschel, Neto e Jackson Follmann.

“Era um voo super de boa, tranquilo. Do nada, os motores se desligam, as luzes se apagam, fica um silêncio. O Allan [Ruschel] estava do meu lado, estávamos perto da asa, no meio do avião. O Neto, nas poltronas da frente. Só escutávamos o barulho do vento. Foi muito rápido. Eu ouvia pessoas rezando. Perto de bater, disparou um alarme na frente do avião, e todo mundo ficou desesperado. O avião foi perdendo altitude até que ele bateu. E aí na hora da queda eu já não lembro de mais nada”, rememora Folmann.

Ferida aberta

Sete anos se passaram desde o acidente, mas Chapecó ainda sente os efeitos da tragédia.

“É um luto coletivo. A vida seguiu normal para quem não tem uma ligação direta com a tragédia, não perdeu familiar ou amigos, mas a tragédia é uma lembrança, é algo dolorido, é um assunto que deixa marcas. Chapecó sempre foi uma cidade muito ligada com o clube. A história da cidade se mistura com a história do clube”, afirma Florão.

“A gente aprende a lidar. Você para de pensar nisso, porque tu tem que seguir a vida, mas, quando você lembra, você vê que é uma ferida aberta. É difícil [cicatrizar]. É algo bem distante. Não sei quando, não sei como, a gente só tenta não pensar tanto, não ficar com tanta coisa disso na cabeça”, diz Gabriela. 

Apesar do luto que devastou a cidade catarinense em 29 de novembro de 2016, a vida seguiu. Mas com as cicatrizes ainda expostas. Nesse tempo, o que não mudou foi o fanatismo pela Chapecoense, mesmo com o time vivendo situação bem distinta em relação à de 2016, quando foi finalista da Sul-Americana. 

A Chape brigou até a última rodada contra o rebaixamento para a Série C. A salvação veio após vencer o Vitória, campeão da Série B, por 3 a 1, na Arena Condá, no último sábado (25). 

Gabriela Conrado comemorou a pemanência da Chape na Série B no gramado

“Eu acho que é muito difícil que a gente tenha a mesma identificação de novo, em algum momento, porque existe essa comparação com o time de 2016, não tem como. A gente estava numa fase ótima, um time muito fechado, muito família, mas foi surreal. Claro, depois que a cabeça esfria tu pensa: ‘Era só um jogo para escapar do rebaixamento’. Mas a gente lidou como se fosse campeão”, comenta Gabriela, que esteve na Arena Condá e entrou no gramado para comemorar a permanência na segundona. 

“A gente comemorou na proporção que seria o tombo que ia ser cair para Série C. Para nós, faz muita diferença, a Chape é algo surreal para a cidade. Hoje você encontra as pessoas, e está todo mundo com uma cara de alívio, porque deu certo. Mas foi sofrido como sempre é sofrido. Parece que a gente vive em constantes testes com a Chapecoense. Essa é a magia”, completa a torcedora. 

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