Dois meses antes de ser acusado pela morte de Eliza Samudio e o crime bárbaro vir à tona em 2010 na imprensa nacional e internacional, o goleiro Bruno Fernandes foi avisado por um pastor por meio de uma revelação divina que viveria uma reviravolta com perdas inimagináveis. Essa e outras experiências foram contadas pelo mais novo reforço do Rio Branco Football Club em uma entrevista ao jornalista e pastor Antônio Klemer pela ADTV, da igreja Assembléia de Deus do 1º Distrito de Rio Branco, nesta sexta-feira (31).

O ex-goleiro do Flamengo, campeão Brasileiro do time mais popular do país há 11 anos, contou que estava em concentração no Windsor Hotel, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, quando foi procurado pelo pastor. Bruno, a priori, relutou em recebê-lo. Fez o líder espiritual esperar por cerca de seis horas na recepção do hotel até ser convencido por um amigo a ouvir o que aquele homem desconhecido tinha para dizer. Era uma profecia que mudaria a vida do promissor atleta que à época tinha um pré-contrato assinado com o Milan da Itália e era cotado para vestir a camisa número um da seleção brasileira.

O goleiro lembrou em detalhes as palavras do pastor. “Eu desci para conversar com essa pessoa [pastor] e ele me disse: ‘Olha, Deus manda eu te falar que você vai perder tudo que você tem. É necessário que você passe por esse processo, mas Deus manda eu te falar também que vai estar contigo do início ao fim. E eu falava assim: ‘Poxa, pastor, mas eu sou goleiro do Flamengo’. E ele disse: ‘Mas você vai deixar de ser. Você pode achar que eu sou maluco. Deus manda eu te dizer que é necessário você passar por isso. Aí eu disse pra ele: ‘Mas eu vou pro Milan. Estou com pré-contrato assinado’. Ele disse: ‘Você não vai’. Aí eu disse: ‘Como não vou?’. Aí ele me falou: ‘Vai acontecer isso e isso na tua vida. Vai aparecer uma pessoa que vai mudar tudo na tua vida. Você pode achar que tudo vai estar perdido, mas Deus manda eu te falar que vai estar contigo do início ao fim.’”

Bruno foi preso em setembro de 2010 pelo assassinato de Eliza Samudio. Primeiro ele cumpriu pena no presídio de Varginha, Sul de Minas Gerais. Depois, por usar celular no cárcere, foi transferido para a Penitenciária de Segurança Máxima Nelson Hungria, em Contagem. Lá, o goleiro conta que pensou pelo menos três vezes em cometer suicídio, quando em um determinado dia foi presenteado com uma Bíblia por um missionário que costumava evangelizar no presídio.

“Ficava perguntando a Deus por que eu estava passando por aquilo, por que permitiu que aquilo acontecesse comigo. Tentei tirar a minha própria vida duas, três vezes no presídio de segurança máxima, mas Deus não deixou.”

Bruno Fernandes foi condenado em 2013 pelo homicídio triplamente qualificado de Eliza Samudio e pelo sequestro e cárcere privado do filho Bruninho.
Sobre Eliza, ele afirma “não ter culpa” e diz que pediu o DNA para saber se é pai de Bruninho.

“Eu não tenho culpa na situação. No mando da Eliza, não tenho culpa. Isso só Deus sabe. Eu e Deus. Não sei qual o propósito de Deus para minha vida. O que vai acontecer.”

Em julho de 2019, o goleiro deixou a cadeia após conseguir progressão para o regime semiaberto e tenta a ressocialização. A chegada ao Rio Branco é o primeiro passo da tentativa de retomada de sua vida profissional e ao convívio em sociedade, embora com enorme resistência.

Bola e Macarrão soltos

Os dois amigos de Bruno, condenados pela morte da ex-amante do goleiro, também obtiveram benefícios do regime semiaberto.
O ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, foi condenado a 22 anos de prisão pela autoria do crime e ocultação de cadáver. Já Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, foi condenado a 15 anos de prisão por homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado.