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Repavimentação da BR-319 pode quadriplicar desmatamento em 30 anos, dizem pesquisadores

Nota técnica da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) divulgada na quinta-feira, 5, estima que a repavimentação da rodovia BR-319, que liga Manaus a Porto Velho (RO), pode gerar até o ano de 2050 desmatamento quatro vezes maior do que o projetado com a média histórica no Amazonas. O estudo cita “prejuízo de mais de 350 milhões de dólares anuais” no agronegócio.

Assinado pelos pesquisadores Britaldo Soares Filho e Juliana Leroy Davis, do Centro de Sensoriamento Remoto, e Raoni Rajão, da Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais, o documento considera dois cenários para a região até o final dos próximos 30 anos. A estimativa do impacto da pavimentação da rodovia foi feita através do modelo SimAmazônia.

De acordo com a nota, o primeiro cenário não inclui a pavimentação da estrada e assim mantém a média dos últimos cinco anos do desmatamento no Amazonas : 1.150 km2. No caso do segundo cenário, que inclui a pavimentação da rodovia, fluxos migratórios, expansão agrícola e ocupação de terras, as taxas de desmatamento atingem 9,4 mil km2.

Os pesquisadores calcularam as emissões de gases de efeito estufa (CO2) e a perda de serviços ambientais para avaliar as consequências ambientais e econômicas do desmatamento. “Com o asfaltamento, o desmatamento acumulado alcançaria 170 mil km2, quatro vezes maior do que o projetado com a média histórica”, diz trecho da nota.

Ainda de acordo com o estudo, com o desmatamento, as emissões acumuladas de CO2 também mais que quadruplicariam, alcançando 8 bilhões de toneladas, o equivalente à emissão de 22 anos de desmatamento na Amazônia com base na taxa de 2019. “Isso mais que inviabilizaria o alcance das metas assumidas pelo Brasil no Acordo de Paris”, afirmam os pesquisadores.

A perda de vegetação nativa afetaria diversos serviços ambientais, principalmente a regulação de chuvas que cai sobre regiões estratégicas para o agronegócio brasileiro. “Estima-se que a consequente redução de chuvas acarretará num prejuízo de mais de 350 milhões de dólares anuais apenas nas receitas de geração de energia hidroelétrica, cultivo de soja e pecuária”, diz a nota.

Alternativas

O documento cita que o Rio Madeira “é a principal via de transporte para o escoamento da produção agropecuária e Manaus já se encontra bem servida por transporte fluvial”. Para os pesquisadores, o projeto é inviável economicamente por “somente um terço do investimento retornar como benefício” e por gerar perdas econômicas pelo desmatamento.

Soares Filho, Davis e Rajão defendem que as populações indígenas da região que tem cerca de 18 mil pessoas deveriam ser consultadas sobre a pavimentação da rodovia. “40 unidades de conservação, 6 milhões de hectares de terras públicas e 50 terras indígenas estariam ameaçadas pelo empreendimento que abrirá as veias dessa maciça porção de floresta a grileiros”, diz a nota.

Para os pesquisadores, se a sustentabilidade econômica e socioambiental do asfaltamento da BR-319 é bastante questionável, “sua prioridade diante do estado calamitoso da infraestrutura viária nas regiões produtivas do país é definitivamente inconcebível como estratégia de desenvolvimento
nacional”. Segundo eles, o Governo Federal precisa reavaliar a proposta de pavimentar a rodovia.

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