O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales anunciou na noite da última sexta-feira (1) que deu início a uma greve de fome para pedir um “diálogo de paz” com o governo de Luís Arce.
“Não queremos derramamento de sangue. Sempre buscamos um diálogo sincero. Peço ao Pacto de Unidade e ao Estado-Maior do Povo que considerem um quarto intervalo no bloqueio das estradas”, disse Evo Morales em uma postagem, em referência aos protestos em sua defesa que completam 20 dias neste sábado (2) e são alvo de operações policiais por parte do governo boliviano.
“Entraremos em greve de fome. O governo deve retirar todas as forças militares e policiais. Além disso, exigimos a criação de duas mesas de diálogo para discutir questões econômicas e políticas. A perseguição e a repressão devem cessar. Também solicitamos a participação de organizações internacionais e países amigos como facilitadores do diálogo”, disse Morales em comunicado na noite de sexta-feira.
Acusações
Evo foi acusado pelo ministro da Justiça, César Siles, de criar uma rede de jovens de 14 a 15 anos para ter a sua disposição enquanto era presidente. O ministro disse que esse grupo seria chamado de “Geração Evo”. Os pais da jovem também estariam sendo investigados porque, supostamente, receberam dinheiro ao entregá-la ao ex-presidente em troca de favores.
De acordo com a lei boliviana, caso ele não se apresentasse para depor, a Justiça poderia determinar uma ordem de captura para que Morales deponha. César Siles reforçou que Evo estaria sujeito à prisão caso não comparecesse.
Na sexta-feira, a secretária de Gênero de Cochabamba, Tatiana Herrera, denunciou Evo por outros cinco casos envolvendo tráfico de pessoas e estupro. Os crimes teriam sido cometidos desde 2019. Elas seriam menores de idade e teriam sido enviadas a La Paz por intermediários.
“Cinco famílias do Chapare, que esta semana tiveram que chegar à cidade de Cochabamba para apresentar suas denúncias por atos de estupro, tráfico de pessoas e abusos, não puderam chegar devido aos bloqueios”, disse Herrera.
O ex-mandatario criticou a investigação, dizendo que as acusações são “inventadas” e têm como objetivo forçar um processo criminal.
Disputa com Arce
Evo chamou de traição a relação com oatual presidente Luis Arce; O ex-presidente se tornou o principal opositor do atual governo depois de voltar do exílio na Argentina. Morales critica algumas decisões de Arce e seus apoiadores e passou a disputar espaço pela candidatura do Movimento Al Socialismo (MAS) nas eleições presidenciais de 2025.
O estopim da desavença, na corrida pela liderança do MAS, se deu em outubro de 2023, quando Morales organizou um congresso em Lauca Eñe, no distrito de Cochabamba. A região é berço político e reduto eleitoral do ex-presidente. No evento, ele chamou os apoiadores de Arce de “traidores”.
O Tribunal Constitucional Plurinacional da Bolívia decretou, em dezembro de 2023, que presidentes e vice-presidentes só poderiam exercer o cargo por dois mandatos, de forma seguida ou não. Com a sentença judicial, Evo Morales, que foi presidente por quatro mandatos, não poderia voltar ao poder.
No entanto, um novo Tribunal Constitucional será eleito em dezembro. Os apoiadores de Evo consideram que, com novos juízes, essa norma poderia cair e Evo poderia voltar a ser candidato em 2025.
Edição: Leandro Melito
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