
O amor não é obrigado a se apegar às noções de tempo e espaço. E é por isso que, mesmo após 13 anos viúvo, o aposentado Paulo Maia Sobrinho, de 72 anos, fala da esposa, Eliete Barbosa Maia, com o mesmo carinho que nutriu durante os 36 anos juntos.
Eles se conheceram em 1975, quando ambos trabalhavam no Banco Real. O namoro começou e, em 1980, surgiu o primeiro símbolo dessa união e que é mantido até hoje: um carro modelo fusca, que era um dos mais comprados na época.
Eles ainda não eram casados. porém, Eliete quis adquirir o veículo, no valor de Cr$ 260 mil (cruzeiros), e colocar no nome do companheiro. Na época, esse valor equivalia a, aproximadamente, R$ 15 mil a R$ 20 mil de hoje, em poder de compra.
“Na época, algumas colegas dela falavam que ela era maluca. ‘Comprar carro e botar no nome do namorado?’. Eu ajudei um pouco, porque quem tinha o capital maior era ela, aí juntamos. Por isso que eu diria que ela comprou”, comenta Paulo.
Mesmo com a possível desconfiança de amigos, o casal seguiu com a compra. Em vez de desavenças, o patrimônio trouxe ainda mais união para Paulo e Eliete. O aposentado lembra que, logo após a compra do veículo, o casal dirigiu até o Palácio Rio Branco, no centro da capital, e tirou uma foto para registrar a conquista.

Harmonia e saudade

Eles se casaram em 1982, se mudaram para Manaus no mesmo ano, e voltaram a Rio Branco em 1985. O fusquinha continuou transportando a família, que cresceu com a chegada de dois filhos. Ao olhar para o carro, Paulo contra que imediatamente se remete à harmonia que tinha com a esposa.
“Às vezes a gente vai falar, muita gente até estranha, né? Mas o tempo que a gente conviveu, de casado até o falecimento dela, nunca tivemos uma discussão mais ríspida. Tivemos algum desentendimento de opinião, mas nada que alterasse nós dois. A gente se entendia muito bem, graças a Deus”, relembra.
Morte da esposa e apego à relíquia

No dia 11 de junho de 2012, véspera do Dia dos Namorados, Eliete morreu após cerca de dois anos tratando um câncer de mama. Paulo se viu sem sua companheira, melhor amiga e mãe de seus filhos, e só podia recorrer ao fusca para, de alguma forma, retomar aquele passado.
“Vários amigos nossos, quando veem o fusca, dizem: ‘Nossa, é a cara da Eliete esse carro’. E para mim, é isso. O carro é ela. Muitas pessoas questionam porque ainda não me livrei do carro, mas eu não pretendo. Dizem que quando eu morrer, não vou levar o fusca, mas eu digo: não vou levar a ‘lata’, mas o fusca eu vou levar”, acrescenta.

Em 2017, através de uma rede social, Paulo relembrou a trajetória com a esposa e o carro da família. “Se meu fusca falasse”, iniciava o texto. Além da referência cinematográfica ao filme de 1968, o fusca e as memórias trazidas por ele são uma maneira dele honrar o legado da esposa.
Não trata-se apenas de nostalgia, mas sim de conexão.
“Ela era uma pessoa muito justa, compreensiva. Ela praticamente cuidava da família toda dela, e da minha família também. Era uma nora excelente. Tanto para o meu pai como para a minha mãe. E eu acredito nisso. Tudo que eu faço, ela olha por mim. E principalmente com o fusca. O fusca é ela. Eu não posso botar o nome do fusca de Eliete, mas o fusca é ela”, declara.

g1
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